Apesar dos 150 mil anos de domesticação, a dentição do cão ainda está adaptada a sua condição carnívora, de perfurar, prender, cortar e quebrar,1–3 enquanto que os 2 milhões de anos de evolução da espécie humana o adaptou para cortar e triturar (moer) como condição de onívoro.4,5

Os dentes variam em tamanho, forma, número de raízes dependendo de sua localização na boca e sua função2 e o tipo de dieta consumida influi diretamente no formato dos dentes, logo, com um conhecimento básico sobre a dentição é possível distinguir o habito alimentar de uma espécie ou indivíduo.2,6–9

De modo didático o dente pode ser dividido em regiões distintas, a raiz, que fica encoberta pela gengiva e ligada ao osso através de um ligamento e a outra exposta chamada de coroa, esta apresenta faces, bordas, cúspides (pontas), sulcos e fossas.10

  1. Vestibular – voltada para o vestíbulo (espaço entre os lábios e o dente)
  2. Lingual – voltada para a língua
  3. Mesangial ou distal – voltada para o dente do lado
  4. Mastigatória, oclusal ou coronal – voltada para arcada antagonista, isto é, a face de contato entre os dentes superiores e os inferiores. Esta face é a mais importante para diferenciar o hábito alimentar.
  5. Bordas – encontro entre as faces vestibulares e linguais
  6. Cúspide – unidades funcionais dos dentes em formato de pontas piramidais
  7. Sulcos –interseção entre as cúspides
  8. Fossas – depressão formada pelos sulcos

- Incisivo

No cão o formato pentagonal, na forma de lança, face mastigatória em ponta (cúspide), bordas laterais em V para aumentar a superfície de corte dos dentes, tem funções a preensão e cortar.2,9

​​No homem o formato quadrilátero, na forma de lâmina, face mastigatória linear, bordas em bisel e tem a função de fazer de cortar.11

- Caninos

​No cão o formato cônico, na forma de ponta de agulha, face mastigatória em ponta e bisel, o tamanho muito maior do que os incisivos e tem função de perfuração e preensão.2,6,9

No homem formato pentagonal, na forma de lança, face mastigatória piramidal, pouco maior que os incisivos e tem função de resgar (dilaceração).11

​​- Pré Molar

No cão o formato é variável, a face mastigatória possui de 1 a 3 cúspides, com fossas rasas incapazes de acumular resíduo, tem funções de preensão, quebrar e triturar os ossos das presas.2,6,9

No homem o formato trapezoide, com 2 cúspides, cinco sulcos e duas fossas que dividem o dente em quatro partes o que facilita ao acumulo de resido, tem função de triturar (moer) principalmente grãos.11

- Molares

​No cão o formato triangular, com face mastigatória com uma cúspide pronunciada e sulcos rasos, sem fossas e tem função de triturar.2,6,9

No homem o formato romboide, com a face mastigatória com 4 a 5 cúspides, com 4 a 5 sulcos e diversas fossas profundas, função de triturar.11

- Formula dentária

É uma organização esquemática quanto ao número, tipos de dentes (incisivos, caninos, pré-molares, molares e cisos no homem) e as respetivas posições em que se encontram na arcada dentária (superior ou inferior / direita ou esquerda).10

- No cão

Dentição de leite: 26 dentes, sendo 12 incisivos, 4 caninos e 10 molares

Dentição definitiva: 42 dentes, sendo 12 incisivos, 4 caninos, 16 pré-molares e 10 molares

- No homem

Dentição de leite: 20 dentes, sendo 8 incisivos, 4 caninos, 4 pré-molares e 4 molares

Dentição definitiva: 32 dentes, sendo 16 na mandíbula superior e 16 na inferior.

1. Dyce KM, Wensing C, Sack W. Tratado de Anatomia Veterinária. Elsevier Brasil; 2004.

2. Hennet P. Canine Nutrition And Oral Health. In: Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition. Paris: Aniwa; 2006:388–397.

3. Kingdon J. African Wild Dog, Cape Hunting Dog (Lycaon pictus). In: East African Mammals: An Atlas Of Evolution in Africa. Chicago University; 1988:458.

4. Marques AF. O Fogo e a Biodiversidade. Naturlink. 2012:1–6. doi:10.1017/CBO9781107415324.004.

5. Teles1 KI, Lima L, Belo2 A, et al. Efeitos da alimentação na evolução humana Efeitos da alimentação na evolução humana: uma revisão The influence of food on human evolution. | Formiga/MG. 2017;12(3):93–105.

6. Hervey CE. Distúrbios Orais, Faringianos e das Glândulas Salivares. In: Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5a. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A.; 2004:1265–1317.

7. Creel S, Creel NMN. The African Wild Dog: Behavior, Ecology and Conservation. Princeton University; 2002.

8. Creel S, Creel NM. Communal hunting and pack size in African wild dogs, Lycaon pictus (vol 50, pg 1325, 1995). Anim Behav. 1996;51:499.

9. Royal Canin. Enciclopédia do Cão. Paris: Aniwa; 2001.

10. Navas IC, Sánchez RM, Ballesta CG. Sistema de notación dentaria. 2001;9(4):126–128.

11. Nelson MM, Ash SJ. Wheeler Anatomia Dental, Fisiologia e Oclusão. 9a. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda.; 2012.